CELEBRA-SE hoje, 16 de Março, o Dia Internacional de Teatro do Oprimido, em comemoração do aniversário do Dramaturgo brasileiro Augusto Boal (1931-2009), criador, nos anos 1970, desta metodologia teatral, desenvolvida em mais de 70 países.
Organizadas pelo Centro de Teatros do Oprimido (CTO), que este ano completa 21 anos de existência, a efeméride será marcada, em Moçambique, por várias actividades a estenderem-se até domingo. O CTO conta atualmente com cerca de 66 grupos e mais de mil membros activos, de acordo com a atualização de dados de 2021.
Dentre elas, estão diversas actuações em várias escolas primarias e secundárias da província de Gaza protagonizadas por grupos dos distritos de Mandlakazi, Chibuto e Chókwé.
“Haverá momentos de conversa com os alunos sobre as possibilidades de aprendizagem trazidas pelo teatro, porque ele possibilita a partilha de conhecimento para a luta contra operação”, explicou ao “Notícias” o coordenador do CTO, Alvim Cossa.
Segundo Cossa, o trabalho visa igualmente permitir que adolescentes, jovens e crianças tenham mais contacto com o teatro e, desde modo, formarem-se novos públicos.
“Quaremos fazer com que o nosso trabalho tenha continuidade nas escolas para que as crianças saibam que o teatro é uma ferramenta importante para o seu desenvolvimento e das suas comunidades”, continuou.
Entretanto, ainda hoje, na sua sede, na cidade de Maputo, o centro realiza um encontro entre a romancista Paulina Chiziane e o filosofo Dionísio Bahule, sob o lema “Teatro Como Arte Marcial Boal e Freire: Convergências na construção de um Mundo Melhor”. Também falarão do dramaturgo Augusto Boal e de como o teatro pode ser usado pelos oprimidos como instrumento de auto-defesa.
A sessão, marcada para 14.00 horas, será realizada nos formatos presencial e virtual atrás das redes sociais do CTO.
No mesmo diapasão, na província da Zambézia, a companhia está a organizar a Gala do Teatro, que terá lugar a 20 desde mês, na Casa da Cultura de Quelimane, no âmbito das comemorações do Dia Mundial 27de Março.
Já na região Norte haverá actuações de grupos dos distritos de Nacala e Monapo, em Nampula, sendo que o mesmo deverá acontecer em Pemba, capital de Cabo Delgado através da Companhia Novos Horizontes.
DESAFIOS DO TEATRO OPRIMIDO
Noutro desenvolvimento Alvin Cossa, também encenador e actor, disse que um dos principais desafios do Teatro do Oprimido no país é a reactivação de muitos grupos paralisados nos últimos dois anos devido á pandemia do novo coronavírus.
Também arrolou a redefinição de estratégia para que o teatro volte aos seus palcos tradicionais, Isto é, aos lugares de grande concentração populacional, como escolas e mercados, comprimido com os protocolos sanitários de prevenção da Covid-19. Neste sentido, o encenador apontou que a pandemia provocou uma redução no acesso a recursos para o Teatro do Oprimido, “apartando-se um pouco o espaço de participação, cidadania e mobilização de recursos de trabalho”.
Alvim Cossa considera ainda que é um grande desafio trabalhar no contexto de terrorismo em Cabo Delgado, onde grupos de distritos como Mocímboa da Praia, Palma, Metuge, Montepuez, Balama e Chiúre “enfrentam muitas dificuldades para a sua mobilidade, sobretudo para se juntar ás comunidades e de bater questões que fazem parte do Teatro do Oprimido”. Porque são raras as actuações em que o CTO não interpretam um personagem polícia, a proibição, quase um ano depois, do uso de uniformes policial para fins artísticos continua um obstáculo para actores.
Entretanto, mais do que lamentar, o centro procurou alternativas e através da sua criatividade desenhou personagens de polícia que não violam esta regra. “Felizmente, com gente criativa, encontrámos alternativas para a situação, vamos construir os nossos próprios uniformes que não refletem exatamente a Polícia da República de Moçambique (PRM), mas de qualquer outro quadrante. No imaginário humano, uniformes de Polícia é sempre uniforme de Polícia”, justificou.